quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Mais uma (triste) história de amor...
Ela era uma moça linda! Morena, cabelos longos, corpo escultural, sempre maquiada. De origem humilde, pegava todos os dias o ônibus do bairro afastado ao centro da cidade e ia trabalhar. Era funcionária de uma loja de cosméticos em um shopping. A vida não era fácil. Ônibus lotado, sem lugar para sentar e ainda tendo que ouvir as piadinhas dos vários engraçadinhos e candidatos a garanhão de plantão no horário. No começo, ela tirava aquilo de letra, mas depois de algum tempo já ficava irritada. Normalmente, no mesmo horário, tomava o ônibus um rapaz que não morava muito longe dela. Ele trabalhava em uma gráfica e fazia o curso de Direito à noite, a duras penas. Não era fácil permanecer acordado na sala de aula, além de ser complicado pagar a faculdade todos os meses. Mas, persistente, ele continuava, pois queria ter um futuro melhor. Embora quase vizinhos, não se conheciam. Dia após dia, o olhar dele já não conseguia se desviar do dela. Afinal, estava logo ali, ao alcance de algumas palavras e, talvez das mãos. Certo dia tomou coragem e foi falar com ela. O pouco espaço no coletivo facilitou a conversa de pertinho. Como o papo não foi ruim, ela deu atenção e se interessou pelo rapaz. Pelo menos, pensava ela, esse não é como os outros que só soltam gracinhas no meu ouvido. O tempo passou, e a tímida conversa inicial foi a semente que transformou a amizade em namoro. Um passou a freqüentar a casa do outro, as famílias se conheceram e tudo ia bem. Já faziam planos para em um futuro não muito distante, se casarem. Ele pretendia em menos de dois anos ser um advogado e dar à futura esposa uma vida melhor que aquela que levavam. Dia após dia se encontravam no ônibus, indo cada um para a sua luta diária. Certo dia, ela não pegou o ônibus. Ele estranhou. Ligou para o celular dela e já a encontrou na loja. Alegara que havia pegado uma carona com uma vizinha, que também estava indo para a cidade. Nos próximos dias, ela já não era uma passageira assídua do coletivo, naquele horário. Quando questionada, sempre dizia que a vizinha havia saído mais cedo e a levara. Como ele a amava muito, até começou a gostar, pois assim a sua amada não viajaria tão desconfortável, naquele ônibus despejando passageiros pela porta que nem fechava mais direito de tão lotado. Certo dia, um automóvel BMW novinho em folha ultrapassou o ônibus em que ele estava. Por coincidência e curiosidade, seus olhos acompanharam o carrão. Qual foi a sua surpresa, ao ver a sua amada, cabelos soltos ao vento e sorriso mais que aberto, bem acomodada no banco do passageiro. E, pior, acompanhada de um sujeito que ele não conhecia. Chegando ao centro, já na loja de cosméticos, ele a inquiriu sobre quem era o motorista e o que ela fazia naquele carro. A resposta não poderia ter sido mais dura. Ela disse que decidira mudar de vida. Aquele dia a dia de pobre já não a satisfazia. O seu novo noivo estava com o apartamento pronto e ela iria se mudar para lá, o quanto antes. Ele que confiara tanto naqueles olhos lindos... Passadas algumas semanas, ela nunca mais foi vista na linha de ônibus. Ele soube que teria virado madame, e morava em um bairro nobre da cidade. O tempo passou. Agora, nas viagens diárias no ônibus, seus olhos se dirigiam para a loirinha sardenta. “Está certo que não é tão bonita, mas viaja comigo todos os dias segurando firme a minha mão. E, gosta muito de mim”.
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