sábado, 14 de março de 2009

Espremedura

Escolheu? Ficou bom? Não trocamos! E nem devolvemos o dinheiro! Dirija-se ao caixa, logo atrás daquela senhora, a septuagésima primeira da fila. Passe o seu cartão! Crédito ou débito? Digitou a senha? Entre logo após aquele senhor, na fila dos pacotes. Tenha uma boa tarde...se puder! Estamos vivendo um outro tipo de escravidão. É a escravidão do consumo, dos gastos desnecessários e da compulsão pelas compras. Como é possível não termos as roupas da moda e não dirigirmos um carro do ano? Onde já se viu os nossos filhos irem para a escola sem um tênis daquela marca? E o boné? Instrumento indispensável ao aprendizado! É inadmissível não passarmos as tardes de domingo em um shopping e muito menos ainda não termos assistido àquele filme que ganhou o Oscar! Não estar na fila para o hambúrguer, é imperdoável. Nós estamos sendo verdadeiros sonâmbulos existenciais que cometem muitas vezes o pecado de ser financeiramente incompetentes para estar em constante sintonia com tudo isso. Estamos virando suco na prensa do consumo. E, pior, nem é um suco muito natural...

segunda-feira, 9 de março de 2009

No jardim

Hoje cedo, liguei para a minha mãe, como eu faço quase sempre. Lá estava ela, no jardim. Feliz e animada do alto dos seus oitenta e quatro anos, me disse que havia levantado cedo, tomado café e ido limpar os canteiros, replantar algumas mudas de flores e regar as suas plantas. Fiquei muito feliz ao sentir em sua voz, a disposição e a vitalidade. Após passar uma vida de lutas e dificuldades, auxiliando meu pai a nos criar, educar e dar o melhor que ela pode, nada mais justo poder se dedicar às linhas, às lãs, ao jardim e às flores. É a recompensa de uma mulher guerreira que sempre lutou bravamente por seus filhos e sua família. Felizes daquelas flores, que podem sentir hoje, o carinho daquelas mãos trabalhadoras e bondosas. Tenho certeza que aquele, é o jardim mais bonito da vizinhança! Existe carinho e amor, além de terra, naqueles canteiros.

Sob o luar

Os raios do luar descem embalados pela fria brisa da noite. Entram pela sacada e clareiam o chão, o quarto, a cama. Lá embaixo, parte da cidade dorme. Inspirado pela lua, invado o teu universo, lentamente. Pela manhã, a chuva lava as ruas, as janelas e as almas. Abro os olhos e vejo que ainda tenho a tua presença. Não penso em sair daqui tão cedo. Não me deixe acordar. A realidade poderia não ser assim, tão perfeita.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Bom dia!?!

Todas as manhãs, ao chegar ao escritório e cumprimentar o pessoal, eu travava o seguinte diálogo com um colega:
Bom dia!
Bom dia, por que? O que você sabe de bom, que eu ainda não sei?
Ou ainda:
Olá! Tudo bem?
Tudo bem? Só se for para você, que ganha bem...
E assim acontecia todos os dias. O meu cumprimento e a resposta dele. Era o mesmo diálogo travado a cada manhã. Eu ficava pensando: seriam estas, as respostas de uma pessoa extremamente pessimista? Ou ele realmente passava por dificuldades intransponíveis e, por isso, não conseguia começar bem, pelo menos um dia? Diariamente, eu ficava matutando sobre isso e me fazia essas indagações. O tempo passou. Hoje, pela manhã, após enfrentar um trânsito quase caótico para ir ao trabalho e passar pelo caixa eletrônico do banco para ver o meu saldo, me bateu uma dúvida. Afinal de contas, bom dia por que mesmo?

segunda-feira, 2 de março de 2009

De menor importância...

Ele sempre se incumbiu de coisas pequenas. Na infância, não brincava no chão para não sujar os brinquedos e a roupa. Na escola, era um dos alunos mais quietos da sala, para não ser notado. Na juventude, a timidez o impedia de se aproximar das garotas. Durante a vida adulta, se enfurnou na mesa do fundo em uma repartição pública, onde não era necessário fazer esforço algum para receber o salário no final do mês. Aos setenta anos, morreu. Ao seu enterro, quase ninguém foi. Afinal, era um dia chuvoso e ele sempre se ocupara de espetáculos de menor importância, mesmo quando era o personagem principal...