sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A septuagenária Guerra dos Mundos

Há exatos setenta anos, seis milhões de americanos ouviam o programa dominical Mercury Theatre on the Air, transmitido em rede nacional de rádio pela emissora CBS - Columbia Broadcasting System. Era a noite de 30 de outubro de 1938, quando por volta das nove horas, a execução de La Cumparsita, executada pela orquestra de Ramon Raquello, direto do Hotel Park Plaza no centro de Nova York, foi interrompida por uma notícia que mudaria os rumos da humanidade. Uma nave extraterrestre havia pousado em uma fazenda nos arredores de Grovers Mill, uma pequena cidade de Nova Jersey, a cerca de 70 quilômetros de Nova York. Por cerca de quarenta minutos, os ouvintes ouviram aterrorizados que centenas de marcianos hostis estavam provocando destruição e causando a morte de milhares de pessoas. A referida invasão, porém, aconteceu apenas na mente do então desconhecido ator e diretor de cinema Orson Welles. Naquela noite de véspera de Dia das Bruxas, o jovem diretor apresentou uma adaptação da obra de ficção científica "A Guerra dos Mundos" do inglês Herbert George Wells, publicada em 1889. A noticia da invasão provocou uma sobrecarga nas linhas telefônicas e congestionou as ruas de Nova York. Cerca de meio milhão de pessoas tiveram a certeza que o perigo era iminente e entraram realmente em pânico. A brincadeira de Halloween de Welles transformou uma obra de ficção em horas de medo e angústia para boa parte da população americana da época. Além do registro histórico do fato e da genialidade de Welles, me chamou a atenção a reação que o mesmo causou à vida das pessoas que estavam calmamente ouvindo o seu programa de rádio em casa. Hoje, nesse nosso mundo globalizado, rastreado por satélites e repleto de informação, qual seria a reação da população ao ouvir uma noticia dessas? Posso estar enganado, mas acho que um imenso número de pessoas munidas de suas câmeras digitais e aparelhos celulares, correriam ao local do pouso da nave alienígena e procurariam fotografar os marcianos do melhor ângulo possível. Em poucos minutos, a imagem dos ET’s estaria correndo o planeta através da Internet. Quem teria medo dos marcianos? Afinal, já estamos com sondas espaciais bisbilhotando o planeta deles. É o sinal dos tempos.

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