quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

No coração...

A época era outra. Era no tempo em que os nobres andavam de carruagem e as roupas exibiam detalhes em renda e veludo. As ruas eram pavimentadas em pedra e iluminadas por lampiões. Era um tempo em que os rapazes cavalgavam e se exibiam em jogos de habilidade e força e as moças casadoiras olhavam com interesse para esses jovens nas festas e bailes da sociedade, na esperança de um bom casamento.
Era costume a moça deixar cair ou atirar o seu lenço em direção ao pretendido, a fim de chamar sua atenção e dar início a um namoro. Os encontros eram marcados por reverências de ambas as partes. As moças abaixavam suavemente o corpo, deixando encostar no chão os longos e belos vestidos rodados. Já os rapazes, inclinavam a cabeça e tiravam o chapéu, em um sinal de respeito e admiração pela beleza das jovens donzelas.
Um belo dia, o país entrou em guerra. Além do exército normal, foram convocados todos os jovens em idade de serviço militar para defender as fronteiras do país nas trincheiras encravadas nas pradarias do norte. Exército enfileirado e soldados equipados, começa o desfile das tropas em direção ao porto para o embarque no navio que os conduziria à frente de batalha. Uniformes impecáveis, mochila e bolsas com pólvora e balas de chumbo transformavam aqueles jovens em soldados prontos para a guerra. Ao ombro, levavam os longos e reluzentes mosquetões guarnecidos por uma longa baioneta. Estavam prontos para a batalha. A multidão, enfileirada ao longo das ruas que conduzem ao porto, promove um festivo ato de apoio, saudando os bravos soldados que irão defendê-los, fazendo frente aos inimigos.
Ao passar por sua amada, que entre lágrimas e sorrisos o aguarda, o jovem soldado a fita nos olhos, na esperança de ouvir alguma coisa que lhe dê forças para a jornada. Ela, em um gesto rápido, lhe atira o lenço perfumado e grita que o ama. Ele, entre um misto de atônito e feliz, grita a plenos pulmões que assim como o lenço, ela estará sempre junto de seu coração.
O navio, movido por longas e altas velas, se afasta e só deixa os soldados alguns dias depois em um ponto onde o barulho dos canhões e dos mosquetões já pode ser ouvido. Colunas de fumaça se erguem e a correria das tropas é enorme. Nas enfermarias improvisadas em barracas, se empilham os feridos. Os mortos são enterrados ainda no cenário das batalhas.
Os dias e as semanas se passam e os entreveros se tornam cada vez mais sangrentos. Ao tentar ganhar uma posição mais próxima da linha inimiga, nosso personagem é atingido por uma bala na altura do peito.
A dor é implacável e o sangue jorra sem cessar. Socorrido por seus companheiros, é arrastado de volta para a trincheira. Em meio ao delírio que já se faz presente, ele chama pela amada. Pronuncia seu nome, a princípio em voz baixa, depois aos gritos na esperança de ser ouvido por ela. Ansiosos por conter a hemorragia e sem um médico por perto, a única coisa que encontram no bolso do ferido é o lenço oferecido pela bela donzela, ainda levemente perfumado. Sem outra opção, se utilizam dele para tentar estancar o sangue que brota da ferida aberta no peito. Não adiantou. Alguns minutos depois, nosso jovem soldado morre. Mas como prometera, manteve junto do coração o lenço perfumado e o nome da amada nos lábios.
A promessa fora cumprida.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O escritor e as duas mulheres

Em meio a ainda tênue luz do amanhecer que entrava pela janela, ele via sua própria imagem refletida no espelho. Hoje, parecia que cada fio de cabelo branco lembrava uma história vivida, assim como cada ruga profundamente esculpida em seu rosto refletia uma emoção sentida. Aquela tinha sido uma noite difícil. O sono estivera leve, os pensamentos voaram distantes e, no peito, um estranho aperto.
Dormira, como sempre fez, ao lado daquela mulher que o acompanhara ao longo da vida e que lhe dera os dois filhos. Estes filhos, já com suas vidas aprumadas e com suas próprias histórias já sendo traçadas longe dos olhos paternos. Foi até a janela de onde estava acostumado a observar as ondas do mar que, insistentemente a cada novo dia, vinham lhe cumprimentar.
Por vezes ele nem queria, mas ali estavam elas, se mostrando, se impondo sobre a areia branca, fazendo o seu ruído característico. Será que, pelo menos hoje, elas não poderiam silenciar? Ele precisava colocar os pensamentos em ordem, as idéias em linha, arrumadas, enfileiradas, para que depois as pudesse repensar, uma a uma.
Estranho, aquela manhã não parecia ser igual a tantas e tantas outras já vivenciadas, aproveitadas, amaldiçoadas. Os olhos vermelhos, conseqüência da noite mal dormida eram uma evidência de que algo não ía bem.
Aproximou-se da velha máquina de escrever sobre a escrivaninha repleta de folhas em branco, algumas parcialmente escritas e ainda outras amassadas, rasgadas e rabiscadas.
Sim, fora dalí, em meio ao constante amontoado de papéis em sua mais ordenada desordem onde haviam sido gestados e expulsos para o mundo todos os seus livros.
Seus livros ao longo de infindáveis anos foram como arautos, mensageiros, que anunciavam em alto e bom tom de tinta preta sobre as páginas brancas, as suas ideias, suas crenças, suas falhas, suas descrenças e até mesmo suas esperanças. Em épocas de guerra, seus livros haviam servido tanto de lenitivo para os soldados nas trincheiras, como fábrica de idéias e argumentos aos líderes do país, únicos a quem as batalhas travadas e o sangue derramado de seus compatriotas serviam para alguma coisa, mesmo que apenas para mostrar poder e força.
Em outras épocas, seus romances embalaram os sonhos de amor e as vidas de toda uma geração de enamorados e apaixonados daquelas terras.
Em períodos de depressão, de crises econômicas, o povo arrancava forças para a penosa sobrevivência nas palavras retiradas das páginas de suas comédias e histórias jocosas.
Sem falsa modéstia, os seus contos, dramas, comédias e artigos políticos impregnados naqueles livros haviam ajudado a construir a mente daquele povo e o enchido de força pessoal, moral e cívica. Por que então, ainda assim havia no ar aquela estranha sensação que a vida não havia valido totalmente a pena ter sido vivida?
O motivo não estava lá fora, nem no mundo próximo, nem no além mar, mas sim dentro de seus próprios domínios: sua casa e principalmente sua mente.
Havia algo que ele e apenas ele, sabia, conhecia e não dividira com ninguém até a data de hoje. O seu coração estivera dividido entre duas mulheres a vida toda, a miserável vida inteira! Desde que se conhecia por gente, as duas estiveram alí, na vizinhança, na mesma rua. Entraram na escola juntos, os três! Aprenderam as primeiras letras na mesma sala de aula. Nos finais de semana, os dias de brincadeiras na rua de terra com as outras crianças terminavam ao lado delas, sentados à sombra de uma árvore, ou na beira do rio contando histórias e rindo muito, de tudo. Os primeiros beijos dos três foram compartilhados, porém sem que uma soubesse da experiência vivida por ele com a outra. Tudo acontecia em um processo natural, sem maldade ou malícia, em um contínuo ato de amadurecimento. Assim, a infância passou, veio a adolescência e a juventude. Aquele trio ria, convivia, passeava e passava a vida partilhando tudo como verdadeiros cumplices. Compartilhavam experiências, carinhos, carícias, ora formando um casal, ora outro.
Com o tempo, ele percebia que as duas estavam crescendo, tomavam formas diferentes, criavam curvas insinuantes, formas de mulher! Como eram bonitas! Aliás, estavam ficando lindas!
A medida que seus olhos sentiam a necessidade de admirar a ambas, seu coração foi se apaixonando, e o pior: pelas duas! Ingrato coração! Indeciso coração!
A dúvida e a paixão estavam presentes e juntas! Ele jamais havia conseguido se decidir, se definir, escolher entre a bela ruiva e a esplendorosa loira que dividiam com ele as salas de aula, os concertos de piano, os jantares, as festas e os bailes. Em uma valsa ele percorria o salão com uma nos braços e na música seguinte era com a outra que ele flutuava.
Os anos foram passando, a vida andava a passos largos e, um dia, ele não sabe porque, decidira pedir a mão da bela ruiva em casamento.
No dia, se sentira resoluto, com toda a certeza deste mundo. Malvado mundo! A medida que o tempo passava, vieram os filhos, um após o outro.
A vida doméstica era boa, mas sempre que a amiga loira passava pela rua, o seu olhar insistia em se desviar para conferir aqueles passos, para ver aqueles cabelos, aqueles quadris e observar a sua bela silhueta. Quando encontrava a amiga nas ruas, no armazem ou na praça, as conversas eram muito animadas. Riam de tudo, os olhares insistiam em se encontrar e as bocas não deixavam de se encarar de maneira quase explícita.
Como a vila era pequena, todas as portas, janelas, ruas e vielas tinham olhos, ouvidos e bocas. Muitas bocas! Então, ele se recolhia para junto da máquina de escrever e dava vazão aos sentimentos que já não podia externar pessoalmente àquela criatura tão querida, tão amada. Quantos romances saíram dali, em situações como esta. Eram vários. Eram muitos. E assim o tempo passava, as marés subiam, baixavam, os dias eram substituidos pelas noites e a vida seguia o seu ritmo, um penoso ritmo.
A ideia de, ao mesmo tempo dividir a sua vida em duas, mesmo que fosse só no seu íntimo, o angustiava, o perturbava. Abriu os olhos e se viu novamente na frente do espelho. Agora, as lágrimas já lhe molhavam a face e as pernas insistiam em se dobrar até o deixar de joelhos, como quem pede perdão pelas faltas, pelos pecados e pelos sacrilégios cometidos durante a existência. Num instante, seus olhos parecem querer saltar das órbitas e um grito sufocado acompanha a forte e aguda dor que irrompe no peito. Era como se o seu indeciso coração finalmente tivesse resolvido tomar alguma decisão; a decisão de pular para fora do peito. Mas, precisava doer tanto? Era quase insuportável! A visão começa a ficar turva e o raciocínio começa a ficar lerdo, fraco, impreciso. Ele sente que as forças o estão abandonando, deixando-o indefeso diante da própria sorte e da própria morte. Sim, ele estava sentindo a presença daquela que só ouvira falar ou só citara em seus textos: a morte!
Tentando chamar por alguém, a voz lhe falta, falha, some, o abandona. Agora, já se vê deitado no chão totalmente entregue e com o olhar fixo no teto. Em instantes, a visão antes turva, se apaga por completo e ele só sente a escuridão. Estranha e fria escuridão que agora o abraça como se fosse uma mortalha. Mas, por algum motivo a dor desaparecera, e isto era bom, muito bom. Aos poucos, sua visão clareia novamente e ele consegue ver aquele corpo de homem, deitado, em repouso no chão. Mas como? Era ele que jazia no chão da sala então já invadida pelos raios de sol da manhã. No mesmo instante, a verdade se descortinou: tinha sido apanhado pela morte, estava indo para uma outra vida, estava a espera de outra sorte.
Pouco a pouco, viu que as pessoas em pânico corriam e se aproximaram de seu corpo, lavando-o com copiosas lágrimas. Ele, porém, estranhamente se sentia bem, aliás muito bem. Passada uma hora, a sala já estava repleta de gente. Amigos, conhecidos, e ali, juntas, lado a lado, os dois amores de sua vida. Para sua alegria, neste instante as duas choravam juntas, abraçadas. Era uma estranha alegria. Começava a perceber que havia sido necessária a sua morte para unir em vida, as duas criaturas amadas. Finalmente, após uma vida inteira ele estava alí, junto das duas mulheres de sua existência terrena em perfeita harmonia, em completa união.
O estranho é que agora, e apenas agora, ele podia estar ao lado de quem quisesse, na hora que bem entendesse. Podia admirar aquelas mulheres que foram a sua vida e que fizeram a sua vida ter valido verdadeiramente a pena ter sido vivida. Ele estava aliviado, se sentia leve. Sua alma estava em paz.
Após quase não terem mais lágrimas para derramar, as duas amadas criaturas se aproximaram da velha máquina de escrever, na esperança de achar ali algo que mantivesse por mais um tempo a sensação de tê-lo por perto. Era como se estivessem a procura de um epitáfio, de uma herança, de um testamento. Eis que, entre uma mistura de sorrisos e choro, elas encontraram o que procuravam. Ali, incrustrada na antiga máquina, estava uma folha datilografada pela metade. Ao mesmo tempo em que um calafrio descia por suas espinhas, dois sorrisos se abriram ao lerem as curtas linhas construidas em tipos pretos e firmemente marcados no papel.
Lá, dizia:

O escritor e as duas mulheres

O velho escritor levara uma vida dividida
Amara muito
Muito em intensidade
Muito em quantidade
Em seu coração, duas metades
Em sua vida, dois caminhos
Em seu pensamento, duas mulheres
Convivia com uma
Vivia para a outra
Casara com uma
Amara também a outra
Nas manhãs da mente, lia o jornal com uma
Nas tardes da vida, declarava-se para a outra
No resto do dia, escrevia inspirado nas musas
Já tarde da noite, quando a luz se apagava
Sua imaginação brilhava
Sua saudade acendia
Sua alma ascendia...
Com uma, tinha filhos
Com a outra, tinha sonhos
Que a outra se tornasse a uma
Que suas almas se tornassem única
Que suas histórias se tornassem una
Que suas almas voassem livres
No frescor da brisa
Sobre as águas calmas
No brilhar da lua
Pela madrugada...
Um dia
O livro fechou
A cortina desceu
A morte chegou
Enquanto outros choravam
Seu espírito feliz, gargalhou
Estava livre para ir
Estava seguro para decidir
Qual o caminho a seguir
Ao lado de quem, descansar...

Era a indicação clara, precisa e escrita que aquela união, que não era apenas carnal, que aquele amor a três, permaneceria vivo através dos tempos, neste e no outro mundo. Quem conviveu, viu! Quem viver, verá! Quem morrer, comprovará!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Remédio amargo

As vezes, sentimos que a vida nos leva de arrasto, nos jogando e empurrando de qualquer maneira, independente de nossa vontade. Corre-se desordenadamente para cumprir compromissos, para respeitar prazos, para ser simpático com todos, para ser bem visto, para ser responsável com tudo. A sensação de sufoco é constante e crescente. Por mais que se queira ser bom cidadão, bom pai, bom namorado, bom marido, bom amigo, se torna difícil. A sensação de impotência é grande e a confusão de sensações e sentimentos, também. Existem situações em que, para que a ferida cicatrize mais rápido, é necessário que se corte a carne ao seu redor. Tem vezes, que para que a dor desapareça logo, o remédio mais indicado é o mais amargo. E, em outras ocasiões, devemos nos afastar de quem amamos para avaliar o que estamos fazendo com as suas vidas e o que podemos fazer para ficarmos mais próximos, de uma forma mais leal, mais verdadeira. As vezes, é preciso que se tire os móveis de casa para que, se a decisão for voltar, ela se torne mais limpa, agradável e bonita. Eu nunca fui favorável a distâncias, separações, saudades, mas existem ocasiões em que este é o melhor remédio, embora amargo, ruim, dolorido. Se a flor de nosso vaso está sendo sufocada pelas ervas daninhas, talvez seja melhor arrancá-la juntamente com as ervas, para depois replantá-la em uma terra limpa e fecunda, onde ela sem dúvidas, crescerá forte e bonita. O vaso será o mesmo, a flor será a mesma, mas a terra será limpa e arejada. A flor estará melhor. Na maioria das vezes, essas atitudes não são bem vistas, nem bem compreendidas. Cheiram a abandono, a pouco caso, a descaso, a sacanagem. Mas, tenho certeza que o remédio amargo, o corte na carne, a distância e a saudade podem, em muitos casos, tornar tudo melhor. Mas para que isso aconteça, basta a vontade verdadeira de querer mudar, de querer recomeçar de uma forma mais verdadeira. Depende da decisão de cada um. Eu, estou tomando pela primeira vez na vida, o remédio amargo. É ruim, na verdade é horrível, mas resolverá! Tenho fé. O que vier depois, independente do que seja, certamente será muito melhor!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Cenas

Nos dias de folga e nas noites de insônia, a vida passa pela minha mente devagar, quadro a quadro. As lembranças vêm a vão. Cenas são relembradas e revividas. É como se fosse uma releitura dos fatos acontecidos. Esse exercício serve para analisar tudo o que se passou e as coisas que se fez ao longo da existência. As boas e más lembranças retornam como se fossem filmes. Alguns, eu até gostaria de assistir novamente, já em sua pré-estréia. Já alguns outros, teria sido melhor se eu tivesse perdido o ingresso naquele dia e nunca os ter vivenciado. Boas e más lembranças, pessoas que alegraram ou entristeceram os meus dias, e situações das quais nem que tivesse vontade, não teria mesmo conseguido fugir. Tudo é relembrado, tudo é revivido, tudo é repensado. Acho que esta releitura da vida é interessante. Com ela, analisamos os nossos atos passados, suas influências em nossa vida e, principalmente, na vida dos outros. Assim também, nos é aberta uma possibilidade de não voltar a repetir os erros e as falhas de outrora e nos é oferecida a chance de fazer diferente da próxima vez. Eu gosto desses “exames de consciência”. Apesar de todas as nossas falhas, naturais de seres humanos, e também das recordações dos nossos acertos, temos assim uma oportunidade de mudar alguma coisa no rumo do que ainda resta de nossas vidas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Até quando?

A música que ouço é sempre a mesma. Uma, duas, cem vezes. Todos reclamam, menos os meus ouvidos. A hora de partir está próxima e a tristeza já se faz presente. Presente indesejado, preferível se fosse passado. Mas, por mais força que eu faça, o passado é cada vez mais presente. Contra-senso, ou falta de hábito com a realidade? Será que tudo deveria mesmo ser assim? As imagens teriam que estar tão vivas na memória? Se são só memórias, não teriam que ser mais vagas? Mas, ao contrário, são vagalhões que varrem da cabeça a razão. E quem não tem razão, jamais terá razão. Parece lógico, não? A resposta é não! Sei que vou, mas deixo o rastro. Me arrasto para deixar de lado, nem que seja um pouco, a tristeza, a falta de alegria. Até quando essa sina? Até quando essa melancolia? Talvez no final da vida acabe, talvez em uma noite como esta, talvez um dia...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

É a vida...

Decida! De prefreência, agora, já! Ou se é alegre ou se é triste. Ficar aí, parado, calado, nessa indecisão, é coisa que a nada leva, é coisa que nada traz, nada vale, não existe. A vida pode ser boa, pode ser alegre, pode ser dura ou também pode ser triste. Ou se é pão ou se é faca. Quem corta quem? Quem machuca? Quem cutuca? Quem ofende? Quem resiste? Por que as coisas são tão difíceis, tão constantes, tão previsíveis? A prata é curta, a vida é longa, o choro é contido e a mágoa é fiel companhia. É o filho que chora, é o chefe que briga, é o partido que escolhe, é a chaleira que chia. A mãe é forte, a avó é boa, a filha sonha com as nuvens e nelas passeia, revoa. O que deveria ser alegre, não o é. O que se espera da tristeza, sempre é forte, sempre é firme, sempre é garantido, sempre está de pé. Será que a vida é mesmo assim? Ou somos nós os enganados, os inocentes, os desenganados? Muito se espera, pouco se dá, bastante se ouve, muito se pensa, pouco acontecerá. Tudo é certo, tudo se sabe, tudo se vê, nada se livra, tudo terminará em lágrima, tudo se prevê. Deveríamos estar acostumados? Poderíamos ficar desanimados, inquietos, mais desesperados? A saudade é presente, o amor é distante, o sentimento é doído, é letal, é diferente. Saudade? Presente? Presente de quem? Por que? Na chegada ou na partida? Só pode ser dela, da madrasta, da malvada, da carrasca, da vida.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Salgada lágrima

Por que a tua lágrima cai? Não deverias estar sorrindo? Com o tempo, aprendemos que coisas como distância, tristeza e saudade são doloridas, mas passageiras. Passageiras com assento reservado ao nosso lado nesta vida de tantas idas e vindas. Por que viemos? Para onde vamos? Por que insistimos? Por que ainda tentamos? Será que um dia, desistimos? Por que nós nunca desanimamos? O dia é escuro e na noite as estrelas orientam, mas os passos são a esmo, sem rumo, sem esperança, cheios de descrença. A dor arde, o cão morde e o tempo da vida já se faz tarde. Mas, não é na tarde que eu te vejo? Se é que eu te vejo, por que choras? Alegria, esperança, desespero? O que sentes ao me ver? Se não sabes, por que não deixas o leito e esperas o dia amanhecer? Já não sei o que penso, não sei o que dizer. Só sei que não gosto que chores. Peço, suplico, imploro. Que ao estar junto de mim, demores. E, que esqueças lá fora, remorsos, mágoas e temores. Insisto ainda, que sorrias, que não chores; com desesperanças e temores, já tivemos dias piores. Afinal, quase no final, por que choras? Além da vida quase inteira perdida, não há nada mais a lamentar. E, de indomável e salgada, basta toda a água do mar.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Exame de inconsciência

O que é isso? É a noite que não passa, o sono que não vem e o vento que não acalma. São os pensamentos que não me deixam, as mágoas que não me largam e as lágrimas que não param. São os gritos que não se abafam, os risos que não cessam e as dores que não aliviam. As flores que já se abrem, os filhos que já criam asas e os olhos que já se fecham. É o berro declarado, o afago apagado e o carinho disfarçado. É o choro contido, o sentimento de dever quase cumprido e o arrependimento desmedido. É a avó que ama, é a mãe que abandona, é a madrasta que chora. É a vida que passa, a morte que se achega e a história que se apaga. Por que dói tanto a minha inconsciência? Por que não abri os olhos enquanto na vida ainda era dia? Por que a tristeza é viva, a realidade é dura e tão boba a fantasia? Prefiro a tudo responder que não, escolher esconder o sim e se precisar, me desculpar com um talvez. É cada vez mais claro que quem os joelhos não dobra, o sorriso não abre e as pálpebras não cerra, nada pode esperar de brinde, de presente, de bônus, nem da vida e nem na morte. Aliás, é entregue à própria sorte. É dura a vida, é quase limpa a consciência e visivel o estado de demência. Será que alguém me mostra qual porta abrir, que disfarce vestir e qual rota de fuga seguir?

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Pensamentos desencontrados de uma fria noite de verão

Já são duas horas da manhã e nem por isso tenho sono. O novo ano se iniciou e ainda não trouxe novidades. Sempre esperamos que o novo ano seja melhor que o anterior, mas repetitivamente vemos que quase nada muda a não ser a idade com a qual terminamos cada um desses novos períodos de doze meses. Mas, como já esperar novidades se o ano começou a menos de vinte e quatro horas? O vento uiva lá fora como um lobo faminto. Apesar de ser uma noite de verão, precisei recorrer a um cobertor. Aliás, parece que nem o clima do planeta é mais o mesmo. Ele se manifesta como quer e nos impõe noites frias no verão e invernos mais amenos do que os que estávamos acostumados. A continuar assim, o que será deste mundo em que vivemos? Mudanças climáticas, crises econômicas mundiais, furacões, enchentes e coisas do gênero nos assolam cada vez com mais intensidade e em menores intervalos de tempo. O que uma noite de insônia faz com um homem... Ele até pensa nos problemas do planeta e da humanidade. Quem sabe estas horas na madrugada não se tornam boas conselheiras e apresentam boas idéias e soluções para alguma coisa? O silêncio é ensurdecedor e provoca eco na minha mente. Consigo até ouvir o som das palavras pensadas! É uma pena que meus dedos no teclado não acompanhem a velocidade dos pensamentos. É uma pena! São pensamentos que chegam, fazem eco e saem tão rápidos como chegaram. Não sei se isso é bom. Aliás, também notei que não consigo verbalizar em palavras as coisas de maneira tão rápida como elas chegam à minha cabeça. Isso será grave? Mais uma vez, a resposta é um sonoro e estridente “não sei!” Será que já estou sonhando? Mas como, se ainda nem dormi? Eu já devo estar pensando bobagens. Ainda bem que ninguém escuta pensamentos. Acho que estou salvo! O maior perigo que corro é de alguém ler essas linhas que estou escrevendo. Não! Quem iria ler isso? Ainda bem! Afinal, não sei se a essa hora eu ainda domino os pensamentos ou são eles que me dão as ordens. Bem, acho que vou tentar dormir. Já chega de pensar bobagens! E, ainda tenho trezentos e sessenta e quatro dias desse novo ano pela frente. Tomara que eu possa dormir mais e pensar menos. O resultado pode ser bem melhor tanto para mim quanto para a humanidade. Isso, se a humanidade desse alguma importância aos pensamentos insones de qualquer um. Quanta pretensão! Realmente, é melhor tentar dormir!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Reinício

Os fogos de artifício anunciaram a virada da folhinha. Bonitas festas e muita alegria marcaram o final de um ano e o nascer de outro. Amanhã, bancos e lojas reabrem e a vida volta às ruas. Eis que 2009 chegou! Vamos com vontade, disposição e fé ao encontro dele! Afinal, a luta continua...